quinta-feira, 5 de outubro de 2017

LONGE É UM LUGAR QUE EXISTIU...





Longe é um lugar que existiu...

Às vezes retornar é dor...
O caminho de volta nunca será o mesmo,
Vais encontrar pedaços de ti espalhados pelo chão
Tudo será menor: do tamanho da criança que foste,
Os degraus enormes da escada menores que teus pés,
Nada estará sendo o que tua memória reteu. 
O quarto cheio de medos e sombras é tão pequeno...
A menina loura de tranças: é aquela velha senhora .
As calçadas de terra, onde rolavam bolinhas de gude,
Cobertas de pedras portuguesas cinzas e brancas...  
As cercas de bambu, onde as mães conferiam prosas,
São altos muros de condomínios eletrificados.
Os velhos vizinhos  se foram com as cadeiras na calçada,
Às tardes modorrentas do passar lento dos dias.
Não será um retorno ao passado, mas um futuro de tocaia,
De fuzis AK-47, abatendo um a um os teus largados sonhos,
Disparados por francos atiradores das trincheiras da mídia.
Triste ‘Árvore da Esperança’ carregada de frutos amargos,
Antes tão doces; agora ruina de um altar à beira do abismo,
Passam pessoas sem rosto, sem voz, sem sorriso, sem olhar.
O pensamento diz: “Nunca mais voltarei para donde vim”
A casa onde morou a minha infância é tapera abandonada
Porteira quebrada, as montarias de há muito debandadas,
Não se sabendo que fins levaram, enfurnadas no matagal,
O animal torna-se xucro, como o sulista o chama: bagual
A menina de olhos azuis me olhava da área lá da esquina,
Um elevado edifício a levou junto com a casa pequenina...
O escuro asfalto veio tirar a graça da rua de chão batido,
Onde rodavam os piões e retiniam as bolinhas de gude,
Os jogos aferrados de futebol com bolas feitas de meias.
Daquelas crianças saíram: médicos, advogados, prefeito,
Professores, engenheiro do ITA, oficial militar e um frade,
Creiam -  dessa rua também saiu um goleiro da Seleção.
Retornando vi todos os sonhos pertencerem ao abismo,
O altar que iluminava meu rosto, o abismo não iluminava,
A ‘Árvore da Esperança’ produziu mais frutos amargos.
 O passado é demolidor, voltei-me ao passado, não ao lugar,
Na volta nada mais há a se alegrar, por não haver nada mais;
Geada e neve que aos primeiros brilhos do sol desaparecem.
Contudo, temos de Graça os dias do presente a nos iluminar,
Para que hoje seja melhor que ontem e pior do que o amanhã:
Se o presente for pior que o amanhã, o futuro se potencializa
Em sendo melhor que hoje. E ao futuro estamos caminhando.
Se hoje for melhor que ontem, nossas preces foram ouvidas,
E a ‘Árvore da Esperança’ e dos sonhos, vai dar frutos doces...
A Esperança triunfou nos dando um amanhã melhor que hoje.


M. Martins Santos


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