Longe é um lugar que existiu...
Às vezes
retornar é dor...
O caminho
de volta nunca será o mesmo,
Vais
encontrar pedaços de ti espalhados pelo chão
Tudo será
menor: do tamanho da criança que foste,
Os degraus
enormes da escada menores que teus pés,
Nada estará
sendo o que tua memória reteu.
O quarto
cheio de medos e sombras é tão pequeno...
A menina
loura de tranças: é aquela velha senhora .
As calçadas
de terra, onde rolavam bolinhas de gude,
Cobertas de
pedras portuguesas cinzas e brancas...
As cercas
de bambu, onde as mães conferiam prosas,
São altos
muros de condomínios eletrificados.
Os velhos
vizinhos se foram com as cadeiras na
calçada,
Às tardes
modorrentas do passar lento dos dias.
Não será um
retorno ao passado, mas um futuro de tocaia,
De fuzis AK-47,
abatendo um a um os teus largados sonhos,
Disparados
por francos atiradores das trincheiras da mídia.
Triste ‘Árvore
da Esperança’ carregada de frutos amargos,
Antes tão
doces; agora ruina de um altar à beira do abismo,
Passam pessoas
sem rosto, sem voz, sem sorriso, sem olhar.
O
pensamento diz: “Nunca mais voltarei para donde vim”
A casa onde
morou a minha infância é tapera abandonada
Porteira
quebrada, as montarias de há muito debandadas,
Não se sabendo
que fins levaram, enfurnadas no matagal,
O animal
torna-se xucro, como o sulista o chama: bagual
A menina de
olhos azuis me olhava da área lá da esquina,
Um elevado edifício
a levou junto com a casa pequenina...
O escuro
asfalto veio tirar a graça da rua de chão batido,
Onde
rodavam os piões e retiniam as bolinhas de gude,
Os jogos
aferrados de futebol com bolas feitas de meias.
Daquelas
crianças saíram: médicos, advogados, prefeito,
Professores,
engenheiro do ITA, oficial militar e um frade,
Creiam - dessa rua também saiu um goleiro da Seleção.
Retornando
vi todos os sonhos pertencerem ao abismo,
O altar que
iluminava meu rosto, o abismo não iluminava,
A ‘Árvore
da Esperança’ produziu mais frutos amargos.
O passado é
demolidor, voltei-me ao passado, não ao lugar,
Na volta nada
mais há a se alegrar, por não haver nada mais;
Geada e
neve que aos primeiros brilhos do sol desaparecem.
Contudo,
temos de Graça os dias do presente a nos iluminar,
Para que
hoje seja melhor que ontem e pior do que o amanhã:
Se o
presente for pior que o amanhã, o futuro se potencializa
Em sendo
melhor que hoje. E ao futuro estamos caminhando.
Se hoje for
melhor que ontem, nossas preces foram ouvidas,
E a ‘Árvore
da Esperança’ e dos sonhos, vai dar frutos doces...
A Esperança
triunfou nos dando um amanhã melhor que hoje.
M. Martins
Santos
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