sexta-feira, 29 de abril de 2016

AUGÚRIO




Augúrio





Era uma tarde febril de sol fogoso, 
onde os pináculos exuberantes 
exalavam ouro.



Arrebatada por um poente soberbo, 
na exótica e indescritível paisagem, 
diviso uma imagem suntuosa, 
que assemelhava uma ninfa celestial.
Extasiada me prostro, mas não recuo,
 e a flamejante figura parece preocupada
 com o paradeiro de alguém. 
E estonteada arrisquei:
- O que fazes sublime senhora, 
ostentando tanta beleza, 
com este arco nas mãos?
- Sou guardiã!  Respondeu incisiva.
- Protejo os pássaros, 
sou deles uma soberana invisível, 
mas por instantes, deixo-me ver.

Defendo-os dos caçadores, 
que não têm perfeito juízo, 
nestes céus já tão despovoados,
 ainda ferem os pobrezinhos, 
que vivem sobressaltados. 


Após devassarem as matas, seus lares, 
ainda não suportam os ver voar, 
com seu planar enfeitando os céus.
E após este murmúrio, 
numa voz vibrante em augúrios, 
desapareceu!


*Laís Müller, Brasil



*Laís é uma querida confreira, "Poeta e Escritora do Amor e da Paz" (PEAPAZ)


terça-feira, 26 de abril de 2016

NOS CORREDORES DE MEU CASTELO



















NOS CORREDORES DE MEU CASTELO

Meu castelo construí com a força de meu interior,
Elevei e assentei torres e pedras, tracei caminhos
Que vêm de longe. Nas marcas os rastros de Amor
E Amizade, como os pássaros constroem os ninhos.

Em qual torre estará repousando os meus sonhos...
Na mais alta do castelo a beirar as nuvens do céu?
Um vulto percorre os corredores, parece tristonho,
Eu a vejo; esvoaçante ao vento, o lilás de seu véu.

A ilusão, companheira das artes; música e literatura,
Maravilhas que a mente as faz e a mão corresponde.
Posso esculpir ou traçar a imagem de uma criatura,
Da torre alta gritar seu nome: só o eco me responde!

Ranger de cordas e correntes, a ponte do fosso se levanta,
O eco se materializa; à frente retorna ao castelo de Sonho
Em sedas lilases a linda donzela - minha alma se encanta;

Um castelo desenhar, e sobre o tema um poema escrever,
Doce trabalho para exercício da alma, voluta deste sonhar,
No mais elaborado capitel a repouso - neste meu anoitecer!


















sexta-feira, 22 de abril de 2016

SER GAÚCHO







SER GAÚCHO



Ser gaúcho não é tão só ter nascido e morar no Rio Grande, mas sim, um estado de espírito constante, um sentir de minuano, um cheiro de pampa, uma visão da querência, ter uma prenda por lá ou a ter a seu lado. 




Ter conhecido e revisitar tua guria. Ser gaúcho é um estilo de vida, é ter o coração campeiro com sangue de guapo correndo nas veias. Podes morar noutros pagos, andejando por onde estiveres, mas se fores gaúcho de verdade, levarás o Rio Grande contigo na garupa.


O tempo em que ainda não puderes voltar ao rincão, não se adaptará só com a saudade: tu voltarás um dia, seja o mais longe em que estiveres de teu Rio Grande do Sul. 




Quem nasce no Rio Grande  tem a alma e o coração plantada como flor-de-campo que de sua Pátria Gaúcha não se separa jamais.



O gaúcho, no entanto, não é só e apenas uma resultante biológica das miscigenações: é, também uma resultante psíquica de muitas influências psicológicas, desde a agressividade do tape, do charrua, do minuano (indígenas) até o aventurismo bandeirante que partiram de São Paulo para os confins de nosso território. Mesclam ainda o idealismo místico jesuítico dos Sete Povos.



Amam tanto sua terra com caprichoso gosto pelas lonjuras a perder de vista dos pampas, como árvore de fortes raízes que retiram do solo de sua querência sua seiva, seus encantos, suas rimas da poesia seu forte canto. 


Gerações desses gaúchos taitas, modelaram o caráter firme e de propósitos retos. Têm orgulho de seu Estado que chamam de pátria, República Riograndense, não por serem mais, ou julgarem ser melhores que os demais irmãos brasileiros, mas desejam sempre deixar provado que se a Pátria Mãe os chamar não hesitam em servi-la, 
provado está que o gaúcho é considerado 
o melhor e mais arrojado soldado do solo brasileiro. 
Transferem o enorme amor pelo Rio Grande 
potencializando esse amor ao Brasil.

A REPÚBLICA RIO GRANDENSE






Um pouco de poesia crioula e nativista gaúcha:

"Gaúcho eu sou,
nasci feliz,
nesta terra formosa onde estou,
sob o céu de meu lindo país.

Vim lá de fora,
sou laçador,
só não pude laçar até agora,
o teu amor.

Gaúcho forte
pra querência voltarei,
do potreiro dos teus olhos
nunca mais me afastarei!"

[Manoel Faria Corrêa, Canção Gaúcho Sou.]



"Sou monarca nestas plagas.
E livre como o pampeiro.
A campanha é meu palácio.
O valor meu escudeiro!

Não me seduzem os tronos,
Nem das grandezas o brilho.
Eu tenho também um trono
Debaixo do meu lombilho!

Pernoito pelas cochilhas,
Sozinho, mas sem receios.
Meu cobertor é meu poncho;
Minha cama os meus arreios!

De laço e bolas nos tentos,
No lombo do meu ginete,
Não há quem não me respeite
Nestes campos de Alegrete!

Conheço estes pagos todos,
Como a estância onde nasci,
Do Uruguai ao Atlântico,
Do Paraná ao Chuí!"

[Gabriel Pereira, Canção do Gaúcho]




































22 DE ABRIL - DIA INTERNACIONAL DO PLANETA TERRA

22 DE ABRIL DIA INTERNACIONAL DO PLANETA TERRA
Postado por Mauro Martins Santos em 22 abril 2016



*

Incrível, mas se tornou um sonho intangível
do próprio homem desejar na Terra  sobreviver?
Sua descendência num planeta possível
ser quimera, apenas querer neste Mundo viver?
 [m. m.s]

*

Comentários 

 Janete Francisco Sales Yoshinaga - Brasil

Belíssima publicação e lembrança querido amigo Mauro Martins!
Um dia importante para todos nós!
Parabéns, Beijos



*

 Crispolo Cortés y Cortés - Espanha
Gracias por Compartir







Delcio Tavares - Ave Sonora - VADS MUSIC








Senza Te Délcio Tavares

Ainda existe um lugar onde a verdade reside em cada alma wilson Paim

Cesar Passarinho - Guri

Contraponto - Cristiano Quevedo

Pé no Estribo - Cristiano Quevedo - DVD - O Melhor do Canto e Encanto Na...

Pampa na Garupa - Iedo Silva - DVD - O Melhor do Canto e Encanto Nativo ...

Healing And Relaxing Music For Meditation (Guitar And Piano 08) - Pablo ...

Relax 8 Hours-Relaxing Nature Sounds-Study-Sleep-Meditation-Water Sounds...

3 Horas Música Relaxante: Música de Guitarra Instrumental, Música de Fun...

quinta-feira, 21 de abril de 2016

SERES FEITOS DE ÁGUA


















O importante não é a massa corporal presente
Por vezes sem conta ela poderá estar ausente
E o sentimento mútuo, ser de todo permanente.

As águas antípodas se encontram anônimas,
Misturando-se em turbilhão umas às outras...
E no mesmo lugar, mesmo oceano: sinônimas.

Não disputam espaço, mas medem suas forças,
Em um enorme vagalhão não sabemos quem
Das águas é alguém, muito menos de onde vêm.

Nessa fusão de águas pesadas em profusão                    
Sem igual, nas forças naturais e até artificiais,
O importante é sabermos conter tal revolução,

Também pensarmos que todos somos um só ser
Ante o fatal algo em comum diante do mesmo Fim,
E tu, só nunca mais seres visto, equivale ao morrer!


 - Mauro Martins Santos -

O JOÃO DE BARRO

O JOÃO-DE-BARRO



PÁSSARO JOÃO- DE- BARRO
INTRODUÇÃO
NOME COMUM: João de Barro
OUTRO NOME: forneiro
NOME EM INGLÊS: Ovenbird
NOME EM ESPANHOL: Rufous Hornero
NOME CIENTÍFICO: Furnarius rufus
CLASSE: Aves
ORDEM: Passariformes
FAMÍLIA: Furnaridae
NINHO (casa): Medindo 30 cm de diâmetro na base. 
Feito de barro, palha e estrume bovino amassados. 
Paredes com espessura que variam de 3 a 5 cm.

FICHA DO PÁSSARO:
Tamanho:
19 centímetros.
Peso
49 gramas.
Tempo de vida:
3 anos, em média.
Alimentação:
cupins e outros insetos, aranhas e, sementes.
Onde vive:
no Leste e Sul do Brasil.
Araucária com ninho "casa" de João de barro

DISTRIBUIÇÃO DA ESPÉCIE NO BRASIL:
O joão-de-barro (Furnarius rufus) encontra-se desde Minas Gerais e Mato Grosso, Estados do Sul do Brasil, 
até a Argentina, onde é conhecido como Hornero. 
Uma outra espécie habita o norte do Brasil e é conhecida como maria-de-barro, oleiro e amassa-barro. 
É, porém conhecido na maioria do território brasileiro 
como João-de-barro.


É admirável a habilidade com que esta ave constrói a sua casa nos postes, nas traves das porteiras ou nos galhos de árvores desnudas. O ninho consiste em uma bola de barro, dividida em dois compartimentos. A porta, que permite ao pássaro entrar sem se abaixar, impede que o vento atinja o interior, pois é sempre voltada para o norte. Macho e fêmea ocupam-se ativamente da construção, transportando bolas de barro que são amassadas com os bicos e com os pés. No compartimento maior, forrado com musgo, pelos e penas, a fêmea deposita de 3 a 4 ovos brancos, três vezes ao ano.

O joão-de-barro é pouco menor que um sabiá, porém mais delgado. Sua cor é cor de terra, com a garganta branca e a cauda tende ao vermelho queimado. É uma ave alegre que não teme conviver com o homem.
Vivem em casais e passam os dias a gritar em curiosos duetos. É tido como passarinho trabalhador e inteligente. Seu canto parece uma gargalhada.
Na Região Sul do Brasil dizem que, quando ele canta, é sinal de bom tempo; que é amigo de todos, e dizem também os sulistas que o João-de-barro é um valente lutador para salvar seu ninho, sua casa em forma de forno caipira, campeiro ou rural.

João-de-barro e "esposa" a "joaninha-de-barro" prontos para constituir família
É um excelente arquiteto e um exemplo de vida doméstica e fidelidade conjugal

Instintivamente bem cedo, aprende a identificar a direção do vento e da chuva ao longo de sua vida.
Na época de reprodução, constrói o ninho na direção contrária ao vento para que a fêmea e os filhotes fiquem protegidos das rajadas de chuva e das ventanias. O pássaro leva de 3 a 5 dias para fazer sua casa, usando barro úmido, palha e esterco seco. Ele chega a realizar de 500 a 2000 viagens para carregar o material necessário. Sua casa fica parecida com um forno caipira, ou seja rural,  tem dois cômodos: a câmara incubadora e a antecâmara. Se repararmos, uma casinha de João-de-barro tem uma parede que se inicia na porta de entrada, em curva e não fecha totalmente até a parede dos fundos, em uma meia espiral deixa uma porta, do piso até a abóboda superior, criando como um “quarto de casal” para sua fêmea botar os ovos e criar os filhotes protegida das adversidades naturais e de predadores.



Não utiliza o mesmo ninho por duas estações seguidas, ou seja utilizam-na por cerca de um ano, construindo outra, para a nova postura de ovos de sua companheira. Creio que [observando minha arte-bonsai] pelo fato de que os galhos que encostam e cercam o ninho, engrossam, e, naturalmente deformam ou destroem partes das paredes da casinha.
O pássaro realiza um rodízio entre dois a três ninhos, julgo que pelo citado fato. Quando não há mais espaço para a construção de novos, o pássaro o constrói acima ou ao lado do antigo. Por isso  é que vemos os “sobrados” de dois, três ou mais “andares”, ou uma “colônia” de casinhas. Como aquelas dos antigos colonos,  geminadas, ou ao lado da outra. Também por falta de espaço e árvores, consequência do desmatamento acelerado pela ganância e inconsequência humana, nosso amigo joão-de-barro e seus semelhantes se sujeitam a usar postes urbanos, beirais de edifícios, mourões de cerca e outros locais.



Na cultura popular, é tido como passarinho trabalhador e inteligente. Seu canto parece uma gargalhada. No Rio Grande do Sul  é pássaro bem comum e dizem que quando canta é sinal de bom tempo. E afirmam: é amigo de todos, corajoso, nada tímido.  De fato não teme construir sua casa próxima da vivenda dos homens [até pelo fato do desmatamento acima citado]. Aproxima-se com confiança das pessoas, corre, pula e canta. Manifesta um tipo de “alegria”, como se soubesse ser bem-vindo. E sem dúvida, em regra é visto com grande simpatia por todos. É um pássaro muito querido, por seu estilo de vida. Figura no folclore de muitos Estados brasileiros.

CURIOSIDADES: 

- Ave símbolo da Argentina, onde é chamado de “hornero”  (Ave de la Patria – desde 1928). 
- A porta de entrada de sua casa é estrategicamente posicionada na direção contrária à chuva e ao vento; um dom natural. 
- Canta sempre em dueto (macho e fêmea juntos, cada qual de um modo um pouco diferente) nos arredores do ninho em postura altiva e tremulando as asas, com um canto extremamente estridente. Cantam ao terminar a tarefa de construção de sua casa.
- Não utiliza o mesmo ninho por duas estações seguidas, parecendo realizar um rodízio entre dois a três ninhos, reparando ninhos velhos semidestruídos. Quando não há mais espaço para a construção de novos ninhos, o pássaro o constrói em cima (até 11) ou ao lado do velho
. 





Uma das Lendas do João de Barro

Os índios contam - na lenda - que foi assim que nasceu o pássaro joão-de-barro:

Há muito tempo, numa tribo do sul do Brasil, um jovem se apaixonou por uma moça de grande beleza. Jaebé, um jovem indígena, foi pedi-la em casamento.
O pai dela então perguntou:
- Que provas podes dar de sua força para pretender a mão da moça mais formosa da tribo?
- As provas do meu amor! - respondeu o jovem Jaebé.
O velho gostou da resposta, mas achou o jovem atrevido, então disse:
- O último pretendente de minha filha falou que ficaria cinco dias em jejum e morreu no quarto dia.
- Pois eu digo que ficarei nove dias em jejum e não morrerei.

Todos na tribo ficaram admirados com a coragem do jovem apaixonado. 
O velho índio guerreiro ordenou que se iniciasse a prova. 
Então enrolaram o rapaz num pesado couro de anta e ficaram dia e noite vigiando para que ele não saísse nem fosse alimentado.

A jovem apaixonada chorava e implorava à deusa Lua que o mantivesse vivo. 
O tempo foi passando e certa manhã, a filha pediu ao pai:
- Já se passaram cinco dias. Não o deixe morrer...!
E o velho respondeu:
- Ele é arrogante, falou nas forças do amor. Vamos então ver o que acontece.
Esperou até a última hora do novo dia, então ordenou:
- Vamos ver o que resta do arrogante Jaebé.

Quando abriram o couro da anta, Jaebé saltou ligeiro. 
Seus olhos brilharam, seu sorriso tinha uma luz mágica. 
Sua pele estava limpa e tinha cheiro de perfume de amêndoas. 
Todos se admiraram e ficaram mais admirados ainda quando o jovem, 
ao ver sua amada, se pôs a cantar como um pássaro 
enquanto seu corpo, aos poucos, se transformava num corpo de ave!

Então naquele exato momento, os raios do luar tocaram a jovem apaixonada, que também se viu transformada em um pássaro.
 E, então, ela saiu voando atrás de Jaebé, que a chamava para a floresta 
onde desapareceram para sempre.

Podemos constatar a prova do grande amor que uniu esses dois jovens, no cuidado com que o joão-de-barro constrói sua casa par e passo com sua companheira, e protege os filhotes, dividindo "tarefas domésticas".

Os homens e jovens índios passaram a admirar o pássaro joão-de-barro porque se lembram da força de Jaebé, uma força que nasceu do amor e 
foi tão grande  maior que a própria morte.

E foi assim que nasceu esta Bela Lenda do João-de-barro...


A fêmea do joão-de-barro pode ajudar na construção do ninho. O casal é exemplo de parceria, fidelidade e de companheirismo. Inseparáveis por toda a vida, os dois revezam-se no trabalho de incubação dos ovos e alimentação dos filhotes.

Poderiam ser símbolos da vida doméstica e é por isso que os brasileiros gostam de vê-los e ouvi-los pela vizinhança.

Quando o joão-de-barro assume compromisso é para todo o sempre.
Eles vivem em casais que nunca se separam.
Quando morre o companheiro, passam o resto da vida sozinhos, cientificamente provado.

Existe uma lenda e muitos acreditam ser realmente verdade, que se a fêmea trair o macho ela mesma docilmente se deixa emparedar pelo companheiro, dentro da casinha, e lá morre por inanição.
Existe um vídeo - neste mesmo blog A Vingança do João-de-barro - que postei sobre isso, onde em uma casinha fechada encontra-se, um pássaro ressequido em seu interior. Existe também uma moda de viola (música sertaneja) no YouTube, cantada pelos famosos e saudosos irmãos Tonico e Tinoco que versa sobre essa história.


Casal de João-de-barro construindo ninho.

A vingança do João de barro.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

VIDA NO SERTÃO



VIDA NO SERTÃO

Um sapato velho,
uma bota, uma enxada,
um corote pra por água,
uma foice, um facão,
uma pequena espingarda,
um martelo, um lampião,
um arreio, um machado,
um cinto e um cinturão.

Uma égua, um cavalo,
um burro de estimação,
um carro de boi na estrada,
uma porteira e um portão,
um sorriso de manhã
com amor e emoção,
um olhar de quem deseja,
de quem ama de paixão.
Uma roça bem plantada
já perto da floração
e uma companheirada

com a enxada na mão,
uma noite de viola,
de sanfona e violão,
uma morena bonita
entoando a canção.

Cícero Alvernaz (autor) 11-04-2016.


Academia Guaçuana de Letras - Moji Guaçu-SP

segunda-feira, 11 de abril de 2016

RASTROS QUE O TEMPO FAZ

















RASTROS QUE O TEMPO FAZ

Essa força invisível, mas sensível, a roçar a pele, que é o Tempo,
se assemelha à superfície do lago levemente tocada pelo Vento,
*
Que se enruga de mansinho, enquanto o tempo nos vai passando.
A prenda se importa um pouquito! Tu és linda!! Dou-te este pito!
*
O que nos falta em lisura de pele, se nos hay recompensa nos guris.
Solita minha prenda vale, a lua crescente quando à noite  ela sorri.
*
Assim os dois manos cantadores de vaneira, fandango e chimarrita,
despediram de suas prendas, dos guris, piás, do pai e da mãe Rita!
*
Não seriam irmãos: o Tempo e o Vento? Não é à toa rimarem tanto;
Tu não achas os pajadores, poetas e cantores revestidos de encanto?
*
Os dois não param, atrelados, como irmãos haraganos pelos pampas,
Coxilhas, invernadas e sertões; de grotões a canhadas e outras tantas.
*
Rumam nos caminhos à cidade; pra cantar no bolicho do Aureliano,
em meio ao pó vermelho das trilhas, levantado pelo vento minuano.
*
Porteira fora o chão é mais pedregoso, a cama é mais dura, a comida
é rara. Salgada no bolso e na boca sem gosto, não atinavam esta vida:
*
Café fraco e só na padaria; não há bule no fogão de lenha e nem angú
com cambuquira, nem brasa e uma costela ou de quebra um inhambu .
*
O Tempo não pára, deixando rastros fortes uníssonos ao vento cantor,
Na busca a saudade da paz da beleza, a liberdade e harmonia do amor.
*
Os andejos araganos, a sina os encilha, ao longe a saudosa querência,
Um abanar de lenço: pai perdoe teus filhos a tristeza dessa ausência!

                                *****************************