Quem tenta
ajudar uma borboleta a sair do
casulo a
mata.
Quem tenta
ajudar um broto a sair da sua
semente o
destrói.
Há certas
coisas que não podem ser ajudadas.
Tem que
acontecer de
dentro para
fora.
[Rubem
Alves]
"Tudo encontra sua essência na mudança
e na transformação ..."
Sementes da Araucária angustifólia brasiliensis (Pinhões) brotando
Às vezes até parece-nos não ser verdade tudo o que passamos pelas adversidades da vida. Uns mais, outros menos, de acordo com as situações vivenciadas e como tivemos que aprender a lidar sozinhos com elas, no ar, sobre as águas, nas ressacas e ciclones, fogo e assaltos, nas guerras urbanas diárias, nas internacionais que os mandatários nos arrumam e conseguimos sobreviver até aqui. Graças à bondade divina que nos fortalece nos orienta e nos guarda. Talvez muitos não acreditem - exatamente porque tem de fato origem em um Poder Incrível.
Tal é nossa vida real: somente através de nossos próprios
esforços conseguiremos superar naturalmente todos os obstáculos, ultrapassar as
pontes sobre os rios de águas turbulentas e aos poucos aprenderemos a nos locomover,
andar e até voar.
Esta pequena prosa a seguir, já a li de várias formas e
adaptações, em vários estilos de narrativa, mas sempre conservando a mesma
essência da maravilha embalada pela naturalidade da Criação. Farei de memória o
que dela pude reter.
(“)Era uma vez uma manhã em que eu descobri um casulo
pendente em um galho de árvore, no momento em que a borboleta se esforçava para
romper o invólucro de sua cela de transmutação e se preparava para sair. O Tempo da Natureza
é lento perante a nossa ansiedade. Estava demorando muito, e eu - como todos os humanos - feitos de
impaciência e pressa, retirei o casulo de seu lugar.
Impaciente, quebrei o ramo em que pendia o casulo, semelhante
a um brinco caprichosamente feito de jade e rubi e comecei a bafeja-lo. O
hálito, mais quente que a superfície do casulo acionou alguma reação física e orgânica
do ser vivente em seu interior, e o fenômeno da vida começou a acontecer
perante meus olhos - o que deveria prever pela minha interferência - mais
rápido que o natural.
O receptáculo do pequeno ser se abriu: era uma borboleta.
Começou forçosamente a tentativa de ingressar na jornada pela vida. Notava que
seu esforço e dificuldade estavam além do fenômeno de seu nascimento natural.
Suas asas não se abriam, amarrotadas e grudadas ao corpo; estava se arrastando.
Algo incomum - e eu sabia a causa - eu havia interferido no ciclo normal e evolutivo de
sua formação.
Jamais irei esquecer o horror e culpa da minha intrusão no
processo de vida daquele animalzinho: suas asas ainda não estavam prontas e
desfraldadas a contento, e todo o seu corpinho frágil fremia, a exaustiva
tentativa era para desdobrá-las.
Curvado, ajoelhado no solo, eu com minha ignorância pensava que a ajudaria com o inútil bafejar do meu
hálito. Claro que era em vão! Quebrei exatamente com o bafejar humano o
fenômeno - natural da vida e o desenvolver das asas - fenômeno este feito
minuciosamente de forma lenta pelo relógio da Natureza com ajuda do Sol. Eu quebrei o
elo do sagrado, o passo a passo que rege as existências - expulsei a vida e lhe
chamara a morte. Qualquer ingerência agora era tarde demais.
Meu hálito obrigara aquela que seria uma linda borboleta azul
com fímbrias em ouro, a se apresentar para o mundo dos insetos e da natureza toda
disforme, prematura ao seu exato tempo biológico de formação. Ela se
convulsionou em desespero, e totalmente incapaz viveu frações de tempo;
seguidos de mais alguns segundos morreu sobre uma folha a que julguei piedade
lhe dar por cama.
Jamais poderia ter interferido naquele processo de
nascimento, que na verdade era um exercício de fortalecimento corporal e
aprendizado. A borboleta ainda não era um ser completo e acabado. Cada ser
animal tem seu tempo próprio de formação e inclusão na vida. Abandonar sua
etapa anterior, o casulo, somente poderia fazê-lo na hora e tempo em que
estivesse apta para alçar seu voo. Tudo segue o ritmo ditado pela etapa
anterior não forçosamente, de forma intempestiva, com pressa, impacientemente.
A vida em suas diversas espécies na Terra há que seguir o ritmo do Eterno. O homem com sua interferência na Natureza está colocando milhares de espécies animais e vegetais na lista vermelha da extinção. Muitos espécimes em breve não mais existirão, outros, nossos filhos ou netos somente os conhecerão em documentários ou por fósseis. Por causa e culpa da ingerência do homem naquilo que tem na Natureza seu Tempo exato, e no habitat sua defesa.
Temos como exemplo a que me prendo por amor, dedicação e esperança de salvar da extinção: a Araucária angustifólia brasiliensis. Ela atinge seus 700 anos e se eleva a 25 metros de altura ["Pinheiro Grande"] ponto turístico de Canela no Rio Grande do Sul. É uma fêmea que ainda produz suas pinhas e derruba os pinhões em seu entorno. No entanto no máximo 10 a 15 minutos o homem e sua motosserra podem abater esses gigantes, reduzindo florestas que cobriam o Estado do Paraná-BR (por exemplo) a menos de 2% das florestas que existiam. E no resto do país a raridade se faz a mesma.
Tudo tem [ou pelo menos deveriam deixar que tivesse] seu tempo certo debaixo do Sol.
Tudo tem [ou pelo menos deveriam deixar que tivesse] seu tempo certo debaixo do Sol.
Nenhum comentário:
Postar um comentário