sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

CAIXA DE BRINQUEDOS


CAIXA DE BRINQUEDOS E FERRAMENTAS

Rubem Alves escreveu em seus textos e pensamentos: “após mastigar, ruminar e digerir o saber de Santo Agostinho, concluí  simplificadamente, que possuímos duas caixas: a de ferramentas e a de brinquedos. Nossa caixa de ferramentas, segundo ele, seria aquela que abriga as coisas úteis, os instrumentos, tudo aquilo que é necessário para a sobrevivência; enquanto na caixa de brinquedos encontraríamos o empinar de uma pipa e o rodar de um peão, a leitura de um conto e uma dança de salão: ‘inutilidades’, coisas que pertencem à ordem do amor.”
Ao ter absorvido mais esta feliz metáfora do grande Rubem Alves do qual sou leitor de toda sua obra, passo a refletir a respeito de nossas duas caixas. Meu filho, Me. E Professor em Administração e Comércio Exterior e Coaching, também fã dos livros de Rubem Alves,  um dia conversamos sobre essa metáfora. Ele próprio se viu refletido na metáfora das caixas envolvido por excesso de obrigações  e acumulo de funções – que a docência superior impõe, acumulando outras atividades de coordenação em pós graduação etc. A função às vezes nos  impõe, mas muitas vezes nós mesmos acrescentamos tarefas funcionais ao já sobrecarregado  trabalho. Chegamos ao ponto em que Rubem Alves nos fala que abandonamos no fundo do sótão ou porão nossa alegre caixa de brinquedos, jogada e cheia de pós e teias de aranha.
Precisamos coordenar a vida de forma a podermos sentar e apanhar os antigos brinquedos e mergulhar um pouco no mundo dos sonhos e fantasias que embalaram nossa infância... Só por um pouco... Seremos outro.

CAIXA DE BRINQUEDOS

Uma caixa cheia de brinquedos
Parece com uma de ferramentas,
A primeira serve para brincadeira
E a segunda repara a casa inteira.

Se pode brincar de palavras ajuntar,
Ferramentas são para danos reparar,
Que os adultos chamam de consertar,
Veja que é conserto e não concerto...

Percebeu? Já houve brincadeira...
Concerto é para música e orquestra,
Conserto é pra arrumar a torneira.
Palavras são como balão de festa:

Deve pular, mas sem nada derrubar,
Cair bem certo como fosse sua bola,
Os brinquedos até podem se quebrar,
Palavras não: consertam como cola!

Passa uma, passam duas, passam três,
Vão formando ideias, se enfileirando.
Experimente fazer poesia, é a sua vez,
É como o vento que o ar vai limpando.

Se hoje não é ontem e sim um novo dia,
Estude com seus colegas novas palavras,
Para com elas fazerem uma bela poesia,

É como enfileirar no chão, bolinhas de gude;
Ou palavras como um carreirinho de formigas
De belas e novas palavras: essa é a virtude!

[Mauro Martins Santos]

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