As leis são como teias de aranha (...) - Sólon -
DE SÓLON AOS DIAS DE HOJE
LEIS E SISTEMAS
Mauro Martins Santos
Os gênios do pensamento universal, não nos vêm ao caso onde
tenham nascido ou morrido, pois as emissões de suas mentes privilegiadas
atravessam tempos e muralhas, períodos de trevas ou iluminados, e chegam
intactos e impressionantemente atuais às conformações dos humanos até milhares
de anos após suas passagens por sobre a Terra.
Nem em sonhos tropológicos ou hipotéticos, os emissários
desses pensamentos visualizaram o absurdo - que homens de cúpula social dos
séculos atuais, detentores de presumíveis deveres e obrigações para com o povo
- estariam cometendo os crimes hediondos, verdadeiros genocídios, subtraindo o
dinheiro público.
Genocídio sim, porque as quadrilhas no poder, causam por ação
ou omissão a morte dos subjugados, desvalidos de assistência outra que não
somente as que esses facínoras espalham como farelos e migalhas. Caiam aonde
caírem, o povo lhes é anônimo, totalmente sem rosto e em grandioso número
ignorantes, na acepção da palavra.
O que os gênios de todos os tempos disseram ou escreveram,
muitas vezes soam como verdadeiras profecias. O intelecto efetua análises
perfeitas do ser humano a ponto de prever as ações benéficas ou danosas que vão
produzir. Partem de pressupostos imediatos e mediatos, sabendo que o homem é
sujeito a determinadas situações ocasionais e favoráveis, ora ameaçadores ora
ameaçados, e conforme sua índole pratica ações não importando as consequências
a seus (des)semelhantes, já que os têm como de inferior categoria, ou de
nenhuma importância.
Os grandes tiranos da humanidade agiram a sangue frio dessa
forma, e seus asseclas aliciados sob o brilho dos cargos, patentes e ascensão a
altos postos se vendiam a qualquer preço. Como exemplo, o nazismo elevava a
capitão, a major, um jovem de vinte, vinte e um anos, condecorando-o com a Cruz
de Ferro - suprassumo do orgulho nazi - conforme seu “heroísmo” “coragem” e
acima de tudo fidelidade ao regime, demostrada pelo seu sangue frio e desmedida
crueldade com os “inimigos” da ideologia ou “raças inferiores” aos “arianos
alemães”.
Tais postos dados a pós-adolescentes; em regime regulamentar
e normal um militar de carreira de outros países, levaria quase a vida toda
para atingir. Eis um pouco do impacto sistemático dos desmedidos poderes e
regimes autoritários registrados pela história. Um pouco, quase nada, da
amostra dos elevados e cada vez mais altos cargos quanto mais sanguinários,
esquizofrênicos, e psicopatas sociais fossem.
Ocorre que temos muitas dessas mentes perturbadas hoje no
poder pelo mundo, pleiteando o absolutismo e a serem guindados ao mando. No
meio político e dos que manipulam doutrinas e podem repassá-las está o maior
número de psicopatas sociais - os camuflados de plena normalidade quando em
público. Aqueles que não sabemos o perigo contido em suas mentes. Os ególatras
pululam no poder de braços com os hipócritas e os arrogantes doentios, juntos
às dezenas de centenas, aqui e ali, em todas as sedes de governo.
Isto dito enseja lembrarmos Nicolau Maquiavel e sua obra O
Príncipe, cuja flagrante contemporaneidade irá perdurar por insondáveis tempos
ainda.
Entre tantos pensamentos interessantes de Maquiavel, ressalto
este que faço em forma de comentário, quando ele diz rico em figuras de
linguagem - onde muito se assenta a obra - “que um líder precisa combinar
qualidades humanas com qualidades animais, citando a raposa e o leão”:
A raposa é astuta e consegue reconhecer
armadilhas, ao passo que o leão é extremamente forte e ameaçador,
perspicaz, mas não tão astuto quanto a raposa. Daí comum chamar-se os
políticos profissionais de “velhas raposas”.
Não é bom ser feito um leão o tempo todo, agindo apenas com a
força bruta, pois isso o levará ao risco de cair numa armadilha. Os orientais
nas lutas marciais ensinam seus pupilos a usarem, sobretudo a seu favor, a
força bruta do inimigo. Com sutileza, esquivam-se e deixam a força bruta agir
em seu benefício. Também não se pode agir somente como uma raposa, ainda que
esperta será mais frágil - você precisará da "força" do leão para se
manter em segurança. Os músculos a serviço da inteligência são
mais capacitados à vitória. Porém, se confiar só na própria
bondade e senso de justiça, não obterá muito que comemorar no mundo dos
homens, infelizmente.
Para sorte dos donos do poder, sempre as pessoas serão
ingênuas: deixam-se levar pelas aparências e nas velhas e poídas
promessas. Peixes sempre prontos a engolir a isca - mesmo que não seja
modificada, mesmo sendo sempre a mesma. Portanto, o político se apresenta como
um “líder do povo”, e precisa ter êxito na camuflagem,
dissuadindo-se de honesto e gentil, enquanto quebra as
promessas e age cruelmente contra aqueles que o elegeram. Se for muito bonzinho
o povo o abandonará como frouxo, sendo cruel e tirano o povo por temor volta a
apoiá-lo. É assim que funciona.
É possível identificar alguma semelhança com os
comportamentos de líderes da atualidade?
Essa metáfora de Maquiavel nos faz pensar que o melhor,
por exemplo, para um líder político, é manter o povo como animal de
rebanho, e que agir como leão não é permitido ou conveniente para
todos a todo o tempo, mas em compensação qualquer um pode agir como raposa o
tempo todo e apostar na sua astúcia.
Não irei falar mais de Maquiavel, guardando esse tema para
outra ocasião.
Deixo neste final de prosa, o pensamento que me inspirou a
escrever este texto:
As leis são como teias de aranha (*zelosa e
trabalhadamente bem feitas);
quando algo leve cai nelas, fica retido, (e seguramente
preso), ao passo que, se for algo maior ( digamos, algo
milionário, recheado de ouro, uma quadrilha de colarinhos brancos inteira,
políticos raposas velhas) , consegue rompê-las e fugir. (**
Sólon)
* as palavras em itálico e entre parênteses , são
comentários do autor do texto.
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** Sólon
Sólon foi um estadista, legislador e poeta grego da
antiguidade. Foi considerado pelos antigos como um dos sete sábios da Grécia
antiga e, como poeta compôs elegias morais-filosóficas. [Wikipédia]
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