PINGOS E CORCÉIS
Regionalismo - Rio Grande do Sul
A Esperança triunfará dando um amanhã
melhor que hoje,
Como um pajador gaudério do Bem,
tecendo
a teia da vida:
Virá montada a selote num zaino,
A
Prenda a Camperear.
[m m s]
Às vezes o trilhar é doloroso ao volveres ao rincão,
O caminho de volta podes a ti nunca
ser o mesmo,
Vais achar pedaços de ti espalhados
pelo chão.
Tu ficarás imaginando que és a
criança que foste,
Na escadaria da escola não mais
caberão teus pés,
Nada estará sendo o que tu
assimilaste no coração.
*
O quarto cheio de medos e sombras é
tão pequeno!
A menina loura de tranças: é aquela
velha senhora...
As calçadas de terra, onde rolavam
bolinhas de gude,
Ora cobertas de pedras portuguesas
cinzas e brancas...
As cercas de taquara, onde as mães
conferiam prosas,
São altos muros eletrificados de
condomínios fechados.
*
Os velhos vizinhos se foram com as
cadeiras na calçada
Dentre as tardes modorrentas do
passar lento dos dias...
Não será um retorno ao passado, mas
um futuro de tocaia,
De fuzis AK-47, abatendo um a um os
teus largados sonhos,
Disparados por francos atiradores das
trincheiras do Mal,
Contra a ‘Árvore Ancestral’ carregada
de frutos amargos...
*
Os pampas; agora miragem dum altar à
beira do abismo,
As pessoas sem rosto, sem sorriso, de
olhar ressabiado...
Teu pensamento diz: “Nunca mais
voltarei para donde vim”,
A casa onde gerou a minha infância é
tapera abandonada,
Porteiras desengonçadas há muito
potreiros desandados
Arisca bagualada às furnas e
canhadas: os pingos e corcéis.
*
O altar iluminou meu rosto, mas o
abismo não ilumina,
A menina de olhos azuis e tranças me
olhava da esquina,
Um elevado edifício a levou junto com
a casa pequenina...
O escuro asfalto veio tirar a graça
da rua de chão batido,
Onde rodavam os piões e retiniam as
bolinhas de gude,
Os jogos aferrados de futebol com
bolas feitas de meias.
*
Daqueles guris saíram: médicos,
advogados, um prefeito,
Professores, engenheiro do ITA,
oficial militar, um frade...
Creiam - dessa rua saiu também um
goleiro da Seleção,
Convenhamos que na verdade, por este
fato, é evolução.
Mas no retorno vi que o precipício
engoliu a tradição
O altar que iluminou meu rosto, o
abismo não ilumina,
*
O pretérito é demolidor,
voltei-me ao passado, não ao lugar,
Geada e neve que aos primeiros
brilhos do sol desaparecem.
Contudo, temos de Graça os dias do
presente a nos abençoar,
Se hoje for pior que amanhã se tem
que o futuro será melhor.
Sendo o hoje melhor que ontem, minha
e tua prece foi ouvida;
E a
‘Árvore da Tradição’ voltará a florir e dar frutos mais doces!
A Esperança triunfará dando um amanhã
melhor que hoje,
Como um pajador gaudério do Bem,
tecendo a teia da vida.
Virá montada a selote num zaino, uma Prenda a Camperear.
Virá montada a selote num zaino, uma Prenda a Camperear.
[Mauro Martins Santos]
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