terça-feira, 14 de novembro de 2017

PINGOS E CORCÉIS




PINGOS E CORCÉIS
 Regionalismo - Rio Grande do Sul 


A Esperança triunfará dando um amanhã 
melhor que hoje,
Como um pajador gaudério do Bem, tecendo 
a teia da vida:
Virá montada a selote num zaino, 
A Prenda a Camperear.
[m m s]




Às vezes o trilhar é doloroso ao volveres ao rincão,
O caminho de volta podes a ti nunca ser o mesmo,
Vais achar pedaços de ti espalhados pelo chão.
Tu ficarás imaginando que és a criança que foste,
Na escadaria da escola não mais caberão teus pés,
Nada estará sendo o que tu assimilaste no coração.

*

O quarto cheio de medos e sombras é tão pequeno!
A menina loura de tranças: é aquela velha senhora...
As calçadas de terra, onde rolavam bolinhas de gude,
Ora cobertas de pedras portuguesas cinzas e brancas...
As cercas de taquara, onde as mães conferiam prosas,
São altos muros eletrificados de condomínios fechados.

*
Os velhos vizinhos se foram com as cadeiras na calçada
Dentre as tardes modorrentas do passar lento dos dias...
Não será um retorno ao passado, mas um futuro de tocaia,
De fuzis AK-47, abatendo um a um os teus largados sonhos,
Disparados por francos atiradores das trincheiras do Mal,
Contra a ‘Árvore Ancestral’ carregada de frutos amargos...

*
Os pampas; agora miragem dum altar à beira do abismo,
As pessoas sem rosto, sem sorriso, de olhar ressabiado...
Teu pensamento diz: “Nunca mais voltarei para donde vim”,
A casa onde gerou a minha infância é tapera abandonada,
Porteiras desengonçadas há muito potreiros desandados
Arisca bagualada às furnas e canhadas: os pingos e corcéis.

 *
O altar iluminou meu rosto, mas o abismo não ilumina,
A menina de olhos azuis e tranças me olhava da esquina,
Um elevado edifício a levou junto com a casa pequenina...
O escuro asfalto veio tirar a graça da rua de chão batido,
Onde rodavam os piões e retiniam as bolinhas de gude,
Os jogos aferrados de futebol com bolas feitas de meias.

*
Daqueles guris saíram: médicos, advogados, um prefeito,
Professores, engenheiro do ITA, oficial militar, um frade...
Creiam - dessa rua saiu também um goleiro da Seleção,
Convenhamos que na verdade, por este fato, é evolução.
Mas no retorno vi que o precipício engoliu a tradição
O altar que iluminou meu rosto, o abismo não ilumina,

 O pretérito é demolidor, voltei-me ao passado, não ao lugar,
Geada e neve que aos primeiros brilhos do sol desaparecem.
Contudo, temos de Graça os dias do presente a nos abençoar,
Se hoje for pior que amanhã se tem que o futuro será melhor.
Sendo o hoje melhor que ontem, minha e tua prece foi ouvida;
E a ‘Árvore da Tradição’ voltará a florir e dar frutos mais doces!



A Esperança triunfará dando um amanhã melhor que hoje,
Como um pajador gaudério do Bem, tecendo a teia da vida.
Virá montada a selote num zaino, uma Prenda a Camperear.

[Mauro Martins Santos]



Nenhum comentário:

Postar um comentário