O HOMEM DE UM LIVRO SÓ
Prever para poder prover
Quem busca regeneração e mudanças em
sua vida moral, física ou espiritual, vai ter que "jogar lastros ao
mar", como no jargão dos marinheiros lá em seu navio. Para o barco não
adernar têm que lançar todo o supérfluo às águas. Se não forem suficientes para
a embarcação deixar de fazer água, passam a atirar mais "lastros" até
os preciosos; se for o caso "o baú do tesouro" - mais vale a
vida. Assim o ser humano, para não adernar seu barco, deve lançar ao mar
tormentoso da vida seus lastros supérfluos: ideias ultrapassadas, dogmas e
doutrinas ferrenhas - que deve saber serem na maioria das vezes - um separador
de águas que afastam os amigos e até parentes próximos. Se não quer desfazer
delas, não as martele como uma araponga: as vencidas ilusões que não condizem
mais ao tempo atual, ou ao local onde se encontra, ou com quem se encontra.
Devemos nunca nos esquecer de que
cada pessoa é única, tanto que mesmo em gêmeos univitelinos as impressões
digitais não são iguais. Ninguém no universo tem uma impressão digital igual a
outra. É uma marca indelével, imutável e eterna da diferenciação dos homens.
Portanto não tentar enfiar goela abaixo suas convicções a outro. Discorde,
tenha a sua visão de fatos ou métodos, de dogma ou doutrinas. Mas entre seus
iguais... Que é debate aceito e livre. Por isso há as congregações, confrarias,
associações etc. para debates a um tema em comum. Mesmo assim, são necessárias
votações, plenárias, convocação geral, conselho deliberativo, e os que perdem
aceitam a soberania do livre pensamento e a hierarquia vigente.
A irredutibilidade é não
aconselhável, tanto antes como após atirarem-se os lastros ao mar - ou seja,
pretensão de ser nova pessoa - ou sendo uma nova pessoa impor-se aos demais. A
humanidade jamais terá unanimidade e consonância de opiniões. Sugestões não são
imposições.
Se não estudas, equivale a dizer: se
não lês; "é o homem de um livro só" como dizia Agostinho de Hipona e
alertava: "Cuidado com o homem de um livro só"... Não aquele que
escreveu um só livro, mas aquele que leu um só. O homem que leu as
famosas cartilhas doutrinárias, que lhe bastam para tudo, como o famoso
"Manual do Escoteiro" dos sobrinhos do Pato Donald, ou o "Cinto
de Utilidades" do Batman, que têm tudo para toda e qualquer solução e
emergências, desde descaroçar uma azeitona a construir uma espaçonave, a pescar
com as mãos e "eliminar" portadores de ideias contrárias... Enfim,
geniais analfabetos sociais.
Consequentemente, quem não lê
conforme dito, nada escreve fora de seu projeto; e de resto, para alguém
melhorar e acrescentar algo à vida. São pessoas do tamanho da circunferência de
suas barrigas, não do cabedal das ideias.
Quem não lê não conhece - se não
conhece nada constrói. Princípio básico para Ser, para depois Ter. Prever para
poder prover.
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Poá - RS, terça-feira,
13DEZ2016
De Maria
Iraci Leal
Para: Mauro
Martins Santos
Um texto magnífico, para ler e reler.
Encantada, estimado amigo poeta Mauro,
bjs MIL
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