segunda-feira, 28 de novembro de 2016

AZUL DEVANEIO DE LEMBRANÇAS


























AZUL DEVANEIO DE LEMBRANÇAS 
(POEMA)

No rutilante albor, da  existência,

Quanto querer em ser sábio;
Mas... Quanta inocência...
Em meus devaneios encantados.
Ao abraçar-te e beijar teus lábios,

Tremia assim... desvairado;
A sós contigo ainda por um momento,
Ao ver-te parecia-me – tresloucado -
Num oceano, imerso profundamente! 
O amor evola e açula o pensamento,

Na etérea fixação ao nosso ser amado;
Nós... Sem nenhuma anterior vivência,
Antevia-te despida translúcida sereia,
Rebrilhando em límpida transparência
Na Ilha Azul de praias e brancas areias...

Dois corações rompendo o peito,
Rostos febris em enrubescência,
Ao advir da quimera - abraçados ao leito.
Assomada visagem tão minha querência,
No devaneio de tão ampla esperança.

Teus olhos abissais possuíam iridescência, 
Conchas que o mar, as ondas na praia lança,
Mimos de terra e mar à tua tiara de cores:
Perfume que a brisa traz de todas as flores...
Os sonhos ganharam asas de lembrança,

Dos devaneios passados de uma Existência,
Percorridos a distantes mares e estradas
Onde em segredo ficou na praia enterrada
Meu tesouro rebrilha à minha aquiescência:
A bela história sobre Uma Fada Encantada! 


- Mauro Martins Santos -



AS POSSIBILIDADES DO AMOR DE DEUS


Oração




AS  POSSIBILIDADES DO AMOR DE DEUS


Senhor,

Alguns são cegos dentre todos os homens às possibilidades
de Teu Amor.
Sois vós como uma fonte canora.
Um manancial inesgotável de Bênçãos.
Faze-nos ver que os atos, são transitórios e podem provir 
de um espírito que chora;
e por trás da máscara, pode estar escondida uma face torturada
pela angústia, que mereça ao invés de ódio, nossa piedade.
Mal entendimentos, preconceitos
e ressentimentos rebeldes acabam surgindo.
Mas, por Tua Graça Eterna,
ajuda-nos sempre na difícil tarefa
de procurar os sentimentos verdadeiros por trás de cada ato,
o rosto por trás da máscara,e a verdade no íntimo,
das pessoas que nos magoam.

Porque
Até aqui nos ajudaste.
Obrigado por tudo Pai.

AMÉM



Mauro Martins Santos


domingo, 20 de novembro de 2016

VELHO AURÉLIO
























VELHO AURÉLIO ‘

‘Sendo velho,
A vida ralha
Como relho, ‘
Diz pra si 
O velho Aurélio.
Que já não mais 
Dobra o joelho...
Não levou
‘Vida canalha

Nem de gaudério, 
Tal vida não leva
Por mortalha,
Na longa estrada
Desta batalha... ’




















Só na sombra
Da Pedra Grande
Desgastada,
Por derradeiro
É que pediu:
‘Ser a última morada,
Deste velho peleador. ’
Sua nora
O acompanha,
Confortando sua dor
Na diuturna campanha!
Nara, a jovem
Que não ralha,
O ajuda com as
Rotas tralhas
Ela e o marido Aran
Nunca lhe puseram
Cangalha.
Aran filho,
Nara a nora,
Sejam benditos,
Este velho  
Quer-vos abençoar
e se não for pedir muito:
‘Quero jazer 
Na sombra
Da Pedra Grande,
Do relho não desfazer
Pra tundar alma penada,
Das que nunca
Fizeram o bem, 
Só maltratar
Só malfadar
Todo mundo,
Sem nunca 
Amar ninguém!’























E junto às tralhas,                                                                                                                   
O fiel amigo cusco
Também velho,
Se enrodilha
Nas botas
Do velho Aurélio,
Que camperearam
Tanta coxilha.
O velho cusco
Quer a custo:
A ovelha,
O tordilho,

























A nora Nara,
E ao filho Aran,
Acompanhar
O rastilho...

Aurélio se atrapalha
A pegar água da talha,
E uma unção 
Nas Cabeças
Da nora Nara
E do filho Aran 
Pra benção
O velho espalha!
Pediu-lhes uma
Cruz de cedro,




















Feita por Ordec
O velho Inca Xiru
E seu filho Acní,
Descendentes
de velhos tribais
Vindos do Peru de
Artesãos ancestrais.
São amigos de
Oruam de quem
Não esquecem as obras
Nem o toponímico
De família de valor;
Sod-Sotnas;
De Grande Rio
Das Cobras
Morador.

























“Raios !”
Ralha Aurélio:
O raio é
Ser velho!
Rememorando
Seu açoriano pai. 
Apenas
Há penas:
Uma mais branda
Outra mais atroz
Dúvida e dor,
Nesta vida
A carregar 
Que remontam
Aos bisavós;
Nada mais terei
Além dessa
Cruz falquejada
E duas lágrimas
Pra derramar.





 











E em castelhano 
pra Ordec entender:
‘Donde están
Los otros sus
Hermanos? 
Muertos  los doce
y sus mujeres
No están...’


Antonte, de longe,
Vi todos c'os filhos 
P’ras bandas da Missão...
Entonces serão só cês dois
E meus dois benditos,
No meu velório? 
Bençoados
Sejam cês dois,
Que tiveram coração,
Ponto de pra duas dúzias
De veros viventes
Fazer vera repartição!
Mas tão todos perdoados,
Não são mesmo de parecença
os dedos da mesma mão.
Lembre meus
Dois filhos:
A Pedra pode ser 
Demais de grande
Mas sua  sombra
Que também é grande, 
Por cima de  minha cova
Não me assombra! 
Porque a pedra
Pode ser grande
Mas sua sombra
Que também é grande...
Não pesa nada!!







terça-feira, 15 de novembro de 2016

A POESIA, O TEMPO E O VENTO






























Retornar de um Tempo
Só o Amor com sua ciência
Nos retorna tão nascentes.
Nos retorna à inocência
O Amor nos faz carentes,

Doce passado adolescente
Onde o Tempo passou e levou;
Mas vivi esse amor ardente,
Que do coração não se apagou
Aquilo que minha alma regou;

Esse doce voltar somente,
O meu coração - guardou...!
(m.m.s)

“Coração aperta no peito
Morre um pouco mais
A cada dia que se vai...”
[Wau]

Isto que se reflete e se repete,
Faz-nos saber que a lágrima é o sumo da vida,
Que sai quando se espreme o coração,
Nesta malsinada vida, mas tão querida,
Muito embora repleta de ilusão!
(m.m.s)



Tempus fugit... Nunca cessa; como o vento que balouça as ramagens e poeticamente - meu “Eu”- mais antigo, pede licença: para dizer que são sim, as árvores que fazem o vento... São os grandes leques, não os de madrepérolas e rendas negras, mas os de folhas, flores e verde Esperança.

Quero pedir a licença do Grande Criador de todos os Poemas, para dizer também, que o tempo não existe lá fora, é o tique-taque dos relógios, o badalar dos carrilhões e o bimbalhar de todos os sinos que esculpem no tempo invisível a imagem do Invisível Tempo...

Quero que a imagem esculpida seja a mais linda materializada que jamais se viu por ninguém...!

Aquela escultura do ser amado, que o queremos vivo e eternizado... Aquela bela dama nostálgica, tão saudosa do amado que se foi... Queda os dias refletindo sobre o Tempo que lhe era tão belo; e esperando, ela espera... com os olhos perdidos no infinito, seu grande amor voltar...!

Aquele retrato pintado com arte sublimada, entremeando seu rosto no mais belo pôr-do-sol, à aragem das brisas e o alçado voo dos pássaros em silhueta contrastada à palheta de cores!

Poetas e escritores, sois todos criadores, pelas suas contribuições ao Belo, ao Amor e à Paz - que de modo alado e encantado - nos fazem viajar entreabrindo as Cortinas do Tempo - folheando como um álbum de figuras, as esquinas antigas da alma - serena ou em golfões de ira santa a "expulsar os vendilhões do Templo" -, no buscar mais profundo de nosso pensamento...


O arrepio do Vento e do Tempo inexorável e passante - a poética saga nos alenta, antecipando o Paraíso trazido ao real - iluminando os caminhos do derradeiro e incógnito final!

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

O NEGRINHO DO PASTOREIO - Folclore do Rio Grande do Sul




A "lenda" do Negrinho do Pastoreio
Folclore- Rio Grande do Sul- Brasil.


Espécie de anjo bom dos pampas que ajuda as pessoas a encontrarem as coisas perdidas.É crença que tenha sido ele, no passado, um escravo guri negrinho, que morreu por maus tratos. A ele como oferendas se oferecem toquinhos (como reza a lenda) de velas e pequenos pedaços de fumo (de corda) - para que ele ajude a encontrar animal bagual, ou demais solípedes e até coisas de estimação perdidas.

A "lenda" do Negrinho do Pastoreio, cuja autoria é atribuída ao pelotense (RS) João Simões Lopes Neto, adquiriu, com o tempo, características de "mito". Contudo a lenda apresenta diversas variantes como soe às lendas do folclore brasileiro.  

Conforme acentua o antropólogo e mitólogo Rogério Rosa, corrobora que há diferentes versões dessa narrativa, como, por exemplo, as de “O negrinho do pastoreio”, “Negrito del pastoreo” e “el Quemadito” (ROSA,R. R. G. ) “. A relação afro-ameríndia entre o Negrinho do Pastoreio e o Saci Pererê na mitologia”; Antares: Letras e Humanidades. vol.5, n°10, julho-dez, 2013.

Também correntes, as versões de Cezimbra Jacques e a já referida de J. Simões Lopes Neto, grande nativista e vivente das mais profundas tradições rio-grandenses. Mas, em ambas o negrinho é um pobre escravo, sem eira nem beira, solito sem ninguém por si, que de um cruel estancieiro sofreu  constantes maus tratos, terminando a narrativa de crueldades por colocar o guri em um formigueiro, até que as formigas o matassem. Contudo, o negrinho, arribando-se dos ferimentos e do lugar amaldiçoado, ergue-se do formigueiro milagrosamente e segue ascendendo-se ao céu.

A Negrinho do Pastoreio são envidadas rezas e pedidos dos crentes na história. É conhecido também por outros nomes similares e acastelhanados: Negrito del Pastorejo, Crioulinho do Pastoreio, Crioulo do Pastorejo, Crioulinho del Pastorejo

Esta lenda, genuinamente rio-grandense, tem inspirado ao longo da campanha gaúcha, perpassando pajadores, cantadores nativistas, regionalistas, cultuadores das lides pampeanas e forrando de inspiração belíssimas páginas não só do cancioneiro regionalista, mas da literatura gauchesca.

É interessante registrar lendas e mitos para aguçar nossa percepção quanto às múltiplas formas que uma narrativa vai tomando de autor para autor.

Mesmo oriunda de uma determinada região do país, em suas localidades seja pela distância uma das outras, dificuldade das comunidades se encontrarem, sobremodo retrocedendo-se ao passado, vão os mitos sofrendo mutações, caminhando cada vez mais para o dramático o sofrido até a santificação de um personagem mitológico.

Contudo não cabe aos antropologistas, historiadores, contistas, mitólogos, teólogos, folcloristas e escritores em geral, provar isto ou aquilo, lhes cabe retratar, contar, recontar, poetizar, juntar partes do encontrável, produzir em performances ou obras de arte o folclore; teólogos: levantar dados para a beatificação e posterior canonização; aos escritores perquirir os possíveis caminhos para retratar a realidade ou aprofundar-se na imaginação ficcional. 

Raras vezes aqueles, caminham ao contrário, tornando o personagem um pândego, devasso, descumpridor, embusteiro. Casos há que existe uma reviravolta como o caso, por exemplo, de uma invenção moderna: o aparelho de televisão. Não há um único, inventor isolado, mas uma série de descobrimentos, pesquisas, peças, equipamentos, sensores, circuitos, até a modernização dos circuitos impressos e toda uma rede de aparatos que a envolvem. Neste caso parte-se de uma ideia, perquire-se um caminho e atingem o objeto das pesquisas experimentos, dando-o como pronto. Os acertos finais são filigranas.

No conto mitológico ou lendário, não. Cada conto aumenta um ponto e cada autor tem sua versão, cada lugarejo conta a história com acréscimo, desbancado para o fantástico ou sobrenatural. Pior, muitos alegam terem visto a “coisa” de um jeito ou de outro. Sempre à noite e no escuro. A instalação da energia elétrica aos mais longínquos rincões, exorcizou a maioria dos fantasmas e monstrinhos, relegando-os ao folclore.

Assim as lendas para uns, pura verdade, a outros parece que sim, e uma grande totalidade "pero si, pero no", acende uma vela para este conto e para o outro também. Assim, o autor, muitas vezes de sua exclusiva criação: o "causo" desgruda-se das páginas de seu livro e vai até a mente das pessoas e se transforma num fato verdadeiro, com visões e tudo...

Muito nos lembram dos livretos de * “cordéis”, onde muitos juram: ser verdade o que leram nos livretos comprados nas feiras. 
Ou ainda, para ilustrar mais: Sherlock Holmes que antropofagiou o seu criador Sir Conan Doile, e passou a existir de forma autônoma, independente. E há quem acredite piamente que Holmes existiu. Para isso há o domicílio do detetive à Rua Baker Street, com os seus objetos pessoais. Sendo um dos pontos turísticos (um museu) mais visitados anualmente de Londres, e quanto mais "fog" para fazer "clima" melhor. 

_______________________________________
* Cordéis - Livretos pequenos de papel barato, capa da mesma folha, quase sempre artesanais, com impressão de capa em xilogravura de madeira. São vendidos em barracas de feira, junto a outros produtos, pendurados com presilhas de roupa em um varal de cordel (cordinha) ou barbante. Daí seu nome cordel. O poeta de cordel chama-se cordelista. As histórias são na maioria simplórias, partindo do ingênuo até literatura de dupla interpretação ou sentido, que recai no erótico-sensual. Outras são dos vaqueanos, cangaceiros, heróis do sertão, milagreiros etc. Alguns autores poetas-cordelistas, já assumiram o gênero e emprestam poesias bem concatenadas, com rimas e métricas elaboradas feitas em gráfica. Mas, buscam conservar a feição tradicional em formato feição e tamanho




***



Estimado amigo poeta, que belíssima homenagem,
ao nosso 'Negrinho do Pastoreio'
encantada com o teu maravilhoso texto,
parabéns, bjs Maria Iraci leal (MIL.)
Coordenadora