Desenho de criança de 8 anos (esquerda) colorido pela mãe artista (direita)
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1 e 2. Arte viva "our body is may canvas" - seres humanos pintados contra fundo também pintado
trabalho único no mundo feito por uma artista californiana dos USA.
Mais que um quadro 3D - uma pintura viva, que levanta e se locomove.
Colagem com papel de presente e colorismo a guache
"Chuva no Bairro Árabe" de M. Martins Santos
Escultura em louça - artista chinês.
Desenho (estudo) de John William Waterhouse, para a Dama de Shallot
A ARTE NOS FASCINA
Mauro
Martins Santos
Da Academia
Guaçuana de Letras (AGL)
A arte pura é fascinante! Ela nos faz
flutuar ou mais: - como pássaros encantados a flanar por universos imaginários
- no sentido de que cada beleza, cada descoberta se apresenta cheia de
possibilidades infindas; é o extravasar do ser, a sensibilidade, o toque, a
busca, a sensação de que o ser humano é muito mais do que o próprio existir. Há
a criação explícita em potência, cessa o tempo; sem passado, presente, futuro...
Pura essência de um momento integral. Há na arte a licença de Deus para que o
artista congele sua obra no exato instante de sua criação.
Podemos vislumbrar uma luminosidade
por frestas de nuvens noturnas, apenas um pequeno fulgor; mas muito além dessa
tênue luz, existe uma gigantesca estrela. Um gerador infindável de energia.
É o gênio da criatividade e da
imaginação exercendo sua verdadeira razão de se estar vivo e
pensante no mundo.
Deveria nos bastar simplesmente
flutuar, propalar e deixar expressar a leveza do ser cotidianamente, mas há
algo mais além da argamassa das aparências, através das emanações puramente
mentais. Se assim não fosse seria sempre o exato, óbvio ou lógico. Não seria
arte, mas ciência.
Independente do tema, estilo, técnica
tratados, notamos que na produção da arte, mais especificamente na pintura, há
uma preocupação com a beleza poética, embutida na representação buscada além da
realidade visível. Neste texto não falaremos especificamente das emoções
buscadas por outros fatores impactantes como: horror, revolta, espiritualidade,
compaixão, fé, etc. Embora o escopo dentre todos os temas sejam o mesmo.
(Exemplo, os Cristos do pintor alemão Mathias Grünewald), que causam pelas
aparências meio putrefatas, um misto de horror, asco, compaixão, remorso além
da piedade, fé... Aliás, era justamente isto que o autor buscou. E à
contemplação de sua obra,a afirmação se reflete.
No geral o verdadeiro artista, aquele
que busca cooptar os visitantes, trabalha com a matéria das emoções da alma e a
espiritualidade. Harmonia e equilíbrio entre os elementos que compõem o quadro.
Resultado disto serão imagens ornamentais, cheias de pormenores e detalhes,
cores luminosas que dão sensibilidade estética às pinturas onde o romance -
mesmo um rudimentar e hesitante erotismo - unidos e disfarçados por uma certa
inocência, também por isso, na arte, têm lugar de destaque.
Os nus femininos (baixa idade média, pré e pós rafaelitas) eram sempre rodeados
de anjinhos, para “quebrar” o impacto "pecaminosa" da nudez explicita das personagens
figurativas. Os seios eram mostrados apenas um quando envoltas em mantos...
A gênese da arte empreende atividades
para causar impacto; o inusitado, e nisto em primeiro estágio é esperada a
reação de quem recebe a mensagem, e torna-se a paga do artista. Ao depois a
recepção e o resultado da leitura da obra dentro das nuances de cada arte: e ao
final, a repercussão.
*
Disse Fernando Pessoa: “A literatura,
como toda a arte, é uma confissão de que a vida não basta”. E não basta porque
ao inquiridor da verdade contida na beleza da arte, é a parabólica busca do
Santo Graal, exemplificando com componentes da saga arthuriana.
Tão elaborada é a prosa poética da
lenda - como soa também a do próprio Rei Arthur, que muitos - e a mente humana é
prodigiosa - creem piamente tanto na existência do Santo Graal como no ainda,
Arthur da Távola Redonda e sua saga, e em Guinevere, Morgana, Avalon, suas sacerdotisas e brumas perenes...
Como toda história - mito ou lenda da antiguidade -, buscavam-se reforçar com a disseminação em prosa, rima ou canto
dos menestréis, a valoração do caráter humano, suportada nas “regras
gentis” de cavalaria, seu desejo pela aventura e a afirmação da honra, perfeição, pureza, nobreza e a
onipresença da Igreja a fazer sombra sobre os castelos, cavaleiros e reis, levando-os à
defesa da fé, exortando os personagens à busca do galardão da eterna e infinita
bondade.
Assim não poderia ser de outra forma.
A lenda e às vezes a total crença no mito arthuriano era um grito de liberdade,
mas também e sobretudo, de contínuas conquistas.
Provavelmente foram esses
os principais motivos para que um mito que reporta a ritos e
regras tão distantes no passado, possa ainda seduzir e permanecer
enraizado ainda com tanta força de crença e profundidade, enraizado nas mentes
de muitas pessoas, sejam elas britânicas ou cidadãos do resto do
mundo.
Guinevere em inglês, e em galês Gwenhwyfar- era consorte
do rei Arthur e
personagem de uma lenda dentro de outra lenda, no ciclo lendário da Bretanha. Tão
bem descrita, tão lindamente elaborada nos detalhes: alta, magra,
olhos azuis, cabelos longos e ruivos como o sol poente; a ponto de querermos
fortemente que ela existisse a se prolatar nos séculos. E nos contentamos em
imaginá-la.
Guinevere sagrando cavaleiro da távola a Sir Lancelot
Guinevere e Lancelot
Guinevere
figura na lenda de um romance com Sir Lancelot,
cavaleiro da Távola Redonda,
dentro da saga arthuriana.
Valerá a sedução das personagens
femininas desta lenda, aos homens, e se versarmos para Sir
Lancelot, Galahad, Percival ou outro Cavaleiro, ou mesmo o rei Arthur de Camelot, recaem no foco da predileção feminina. Jovens e crianças com as peripécias das justas e torneios. Em um filme moderno, até um Rock fez fundo musical - e ficou bastante interessante.
Desta saga fantástica, Guinevere, a dama de Shallot e
o Castelo de Camelot, sempre me seduziram - dos quais retirei muita inspiração
para desenhos e pinturas a óleo.
*
Aliás, não seria exatamente essa a
missão das palavras, tanto orais quanto em maior grau as escritas, juntadas às
imagens ilustrativas, que mesmo ficcionalmente sendo, nos farão parecer
realidade?
Que não se pense que ao adentrar
as brumas de Avalon e deixando de lado terreno menos aprofundado no tempo e no
espaço, estaríamos nos distanciando do foco da temática das artes. Portanto, dentro do campo das artes, da qual a literatura faz parte, cheguemos mais para perto, embora seja final do século XIX e início do século XX.
Sherlock Holmes, criatura de Sir Conan Doyle
Falemos então de Conan Doyle e de seu
Sherlock Holmes. Mais que um simples personagem, Holmes se transformou em
protagonista, tão factível quanto a criatividade de Sir Conan Doyle pode
produzir. Era o criador do famoso detetive particular, um oftalmologista
frustrado (não tinha clientes, talvez pela sua especialidade na época) daí um fracassado
e ocioso em seu consultório.
Para preencher seu tempo vazio Doyle
resolveu criar Sherlock Holmes e fazer umas publicações em jornal londrino. Em
resumo: o autor conseguiu fazer a imaginação dos leitores mutacionar - e
transladar Holmes da ficção para o plano da realidade - como se verdadeiro
fosse de carne e osso, com todas as situações e ações de seus famosos casos. E
Holmes “engoliu” o autor. O mundo falava muito de Holmes e quase nada de Doyle.
Foi, segundo os especialistas em
literatura geral, e os especializados em contos policiais, sobretudo os Sherlockianos,
um fato inusitado, incrivelmente inédito, do personagem antropofagiar o autor,
eliminando-o e passando a existir de forma autônoma: com estilo de vida,
domicílio, objetos pessoais, locais de frequência, violinista, boxeador,
esgrimista, fumante de cachimbo e perito em química por vocação. Profundo
conhecedor de venenos.
Existe ainda a discussão sobre a
Universidade que frequentou na Inglaterra. Discutem em qual delas Holmes foi
aluno, dentre as grandes e mais antigas do Reino Unido - e reivindicando o
famoso detetive particular como aluno desta ou daquela. Há diversos clubes,
confrarias e associações voltadas para o estudo da “vida” e “modus operandi” do
celebre detetive, e claro, onde debatem e discutem as filigranas a respeito de Sherlock
Holmes.
Sherlock Holmes à direita, e o Doutor Watson MD à esquerda
Há visitação turística permanente ao
endereço de Holmes em Londres, Baker Street, no icônico endereço -221b; a
casa virou o museu “Sherlock Holmes”, numa típica casa vitoriana, o
espaço é pequeno, mas sempre vale a pena conhecer!
A decoração fiel dos cômodos é a tradicional
da época, e não somente se vê de perto, como supostamente viveu o famoso
detetive, mas também se encontram alguns de seus contemporâneos, o médico, ajudante de detetive de Holmes o Dr Watson, entre outros seu arquiinimigo, Moriarty, em bonecos de cera impecáveis.
Seus objetos pessoais: o violino, o cachimbo,
a lupa, o famoso boné, os tubos de ensaio, álbuns de recortes de jornais,
chinelos que Holmes usava...
E assim nos deleitamos em ter o
personagem "vivo" em nossos pensamentos e sonhos. Antes somente a força literária
das palavras, movia a imaginação e surpreendia! Assim também fazemos hoje, ao nos deslumbrarmos como os hodiernos contatos visuais (e virtuais).
“Sem imaginação não há espanto” disse,
Conan Doyle pela boca de Sherlock Holmes. Contudo, o objetivo do criador da
arte é fazer com que as pessoas pensem, e pensando imaginem e imaginando
naveguem, voem, viajem a outros “mundos” no estofo da fantasia, no encanto,
tomando assento no próprio veículo criativo, que detém ante si.
Serve a arte também para outros
desígnios que a criação imaginativa possa fazer; protesto, denúncia,
reivindicação, revolta, incitação, vingança, ódio, discriminação, sensualidade,
erotismo, pornografia... Da mesma forma que a arte é livre,
também os espectadores, plateia, visitantes, assistentes, ouvintes, são todos
também livres para assistirem, verem, frequentarem ou não os locais de arte.
A arte nunca vem até nós; somos nós
que nos dirigimos a ela. A buscamos. Por isso há botões de controles, catracas que antecedem os recintos, ser preciso a compra do ingresso e do material em áudio, visual ou impressos.
Como finalização é interessante
registrar um fato verídico, ocorrido com um dos maiores dicionaristas
brasileiros - senão o mais conhecido: Aurélio Buarque de Holanda e seu
dicionário “Aurélio” ou “Aurélião”, como o chamam popularmente. Foi o seguinte:
- Duas senhoras idosas, contemporâneas
de Aurélio, escreveram-lhe uma
carta (na época a comunicação era ou por carta ou por telégrafo e raros acessos ao telefone), dizendo-lhe:
“Você não tem vergonha Aurélio, um homem velho, escrevendo tantas obscenidades,
palavras de baixo calão e termos chulos e pornográficos, em seu livro de léxico!?”
- Aurélio responde às duas senhoras -
que por sinal eram suas amigas - desta única e sucinta forma: “O que vocês
estavam procurando??”
Como disse Goete em Fausto,
parodiando Hipócrates: “Ars longa, vita brevis” (latim, a frase original era em
grego) em ordem indireta mais poética: Longa é a Arte, breve é a vida.
"Gaivota", giz pastel - M. Martins Santos