sábado, 22 de julho de 2017

APENAS SONHOU AO NINHO VOLTAR























APENAS SONHOU AO NINHO VOLTAR

Eu voava tão livremente,
No declinar do sol trinava;
Sabiam que alegremente,
Era meu canto que entoava.

Um dia fiquei sem poder
Escapar de cruel prisão,
Criminoso sem nada fazer,
Sem dó nem compaixão.

Atirado neste canto imundo,
Foram minhas asas cortando.
Solto um trinado profundo,
Mas estava apenas delirando.

Como não cantava na cela,
O carcereiro ia me soltar...
Pendurada a gaiola na janela,
Ri o taberneiro: - Estás a cantar!

Pobre de mim estava sonhando
No azul profundo do céu a voar...
Ri o taberneiro assim zombando:
Ó cantaste! Não irei mais te livrar...

Triste sina a deste pobre passarinho,
Que apenas sonhou a seu ninho voltar;
Era uma mamãe, zelosa dos filhinhos:
Jamais comeu, para da vida se livrar...

Pobrezinha ave prisioneira deste fado,
Assim, enjaulada na gaiola ao cantar,
Perfiando o bigode  fala o malvado:
"Tu cantaste, não vou mais te soltar".

Prisioneira a pobrezinha foi definhando,
Emudeceu; o algoz deixou-a sem comer,
Suas asas e penas foram se atrofiando,
Caindo plumas e penas sofreu até morrer. 

[Mauro Martins Santos]




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